Amar o próximo como a si mesmo

Os fariseus, ouvindo que ele fechara a boca dos saduceus, reuniram-se em grupo e um deles – a fim de pô-lo à prova – perguntou-lhe: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Ele respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”

(Mateus, 22:34-40, conforme a Bíblia de Jerusalém)

Na época de Jesus, saduceus e fariseus representavam as duas grandes correntes religiosas judaicas, sendo que os fariseus detinham a maioria no Sinédrio, o conselho supremo religioso do povo de Israel, através dos seus Doutores da Lei, ou seja, sacerdotes com profundo conhecimento das escrituras sagradas e suas interpretações. Jesus não era fariseu e, também, não era Doutor da Lei, o que motivava saduceus e fariseus a questioná-lo, pois que ele ensinava como se tivesse autoridade, e de fato tinha, pois não lhe faltava autoridade moral, sendo Jesus o Espírito mais perfeito que já esteve presente no mundo terreno, como nos revelam os Espíritos na questão 625 de O Livro dos Espíritos.

Na passagem sob nosso estudo do Evangelho Segundo Mateus, é dito que o fariseu escolhido pelos demais perguntou a Jesus qual era o maior mandamento da Lei, ou seja, qual era o maior mandamento da Lei Divina. Ele não precisava formular essa pergunta, pois como Doutor da Lei, conhecia muito bem a resposta, que está no famoso Decálogo recebido por Moisés: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Em verdade a pergunta era apenas um teste para saber se Jesus iria responder de acordo com a Torá, o livro sagrado judaico. Se assim não acontecesse, seria motivo para acusá-lo de heresia e levá-lo à prisão. Mas Jesus os conhecia e sabia o fundo de seu pensamento, inclusive sabendo que ser chamado de Mestre pelo fariseu era apenas uma ação hipócrita, da boca para fora, tentando enganá-lo. Ciente de tudo isso, recitou o primeiro mandamento do Decálogo, calando também aos fariseus.

A narrativa poderia ter encerrado nessa resposta de Jesus, entretanto, como Mestre, ele aproveitou a ocasião para ensinar outro mandamento da Lei Divina: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Esse mandamento não consta do Decálogo, nem mesmo é estudado e interpretado através da Torá. Os judeus tinham imensa dificuldade em perdoar o próximo, em compreendê-lo e praticar o bem; eram preconceituosos, discriminatórios, e os direitos não eram comuns, nem valiam para todos. Isso também acontecia entre os romanos, gregos, macedônios, persas e demais povos da época. Estava em vigor a Lei de Talião, ou seja, olho por olho, dente por dente. Havia uma grande necessidade de amor, da prática do amor.

Esclarecendo a importância desse segundo mandamento, Jesus o equipara ao primeiro, colocando o amor a Deus e o amor ao próximo no mesmo patamar, pois um mandamento é semelhante ao outro. Indo mais profundamente no ensino, encerra sua fala dizendo que toda a Lei Divina e todas as revelações espirituais vindas através dos Profetas, dependem da prática do amor.

Temos um melhor entendimento sobre esses ensinos de Jesus com o Espiritismo, onde aprendemos que, além de Criador de tudo o que existe, Deus é também Pai de todos os seres, é nosso Pai. Onde aprendemos que Deus é amor, é sabedoria, é justiça, é bondade, é misericórdia. Onde aprendemos que o amor, emanado de Deus, vibra em todo o universo. Onde aprendemos que, como seus filhos, e portanto irmãos, temos em nós a centelha divina do amor, a qual devemos desenvolver.

O desenvolvimento do amor, que é o sentimento por excelência, o maior dos sentimentos, deve ser feito através do processo educacional de nós mesmos (autoeducação), mas igualmente no intercâmbio com os outros, no relacionamento social. Estamos reencarnados para realizar o aprendizado do amor ao próximo, colocando em ação as ferramentas do respeito, da solidariedade, da tolerância, da fraternidade, da colaboração, aprendendo uns com os outros, rumando constantemente para a perfeição, da qual Jesus é guia e modelo.

No exercício do amor ao próximo aprendemos a combater e destruir o egoísmo e o orgulho, as duas grandes chagas morais da humanidade, causadoras de todos os males que temos enfrentado. Esse bom combate é antes individual do que coletivo. Somente indivíduos transformados moralmente poderão realizar a transformação moral da humanidade. Eis o verdadeiro processo de educação do espírito imortal presentemente vivenciando mais uma experiência humana, motivo pelo qual o Espiritismo defende a urgência da aplicação da educação moral.

Amar ao próximo, seja ele quem for, como a nós mesmos, é a senha para a paz e a felicidade já neste mundo.

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