segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Está em todo lugar...

Uma sigla tem caracterizado o mundo corporativo, pelo menos das grandes empresas, a qual você já deve ter visto em algum lugar: ESG. Ela significa, em português, meio ambiente, sustentabilidade e governança, mostrando o quanto a empresa possui preocupações e ações de conservação da natureza, de manejo de recursos sem depredar o planeta, de quanto sua administração é humanizada. Existem vários parâmetros para definir o nível de ESG, de comprometimento com metas e práticas saudáveis tanto para a natureza planetária quanto para a sociedade humana.

É um movimento muito importante, embora saibamos que nem sempre o comprometimento com a ESG signifique, de fato, ações concretas compatíveis com as necessidade humanas e planetárias, de acordo com a capacidade que a empresa possui. É fato, igualmente, que esse movimento está longe de alcançar todos os países e todas as empresas, principalmente as de porte médio e os pequenos empreendedores, mas representa um passo importante para melhorar o que podemos chamar de consciência ecológica, ou ambiental, dos empresários e seus colaboradores.

Para termos uma ideia da importância desse movimento, basta olharmos para a questão, bastante preocupante, do plástico, que se espalha pelo mundo como lixo tóxico e não degradável. De forma geral o plástico leva até 400 anos para se desfazer na natureza, com o agravante que muitos plásticos, pela sua composição química, nem são recicláveis, ou seja, não há o que fazer com eles.

Verdadeiras ilhas de lixo plástico estão se espalhando e movimentando pelos oceanos. Praias inteiras já foram interditadas, mundo afora, por causa do acúmulo de lixo, representado principalmente pelo plástico.

E você sabia que, pouco a pouco, o plástico se fragmenta nos oceanos, tornando-se microplástico, pedaços muito pequenos de plásticos que são ingeridos pelos seres matinhos, e também por nós seres humanos, causando efeitos tóxicos e levando à morte mais cedo até mesmo os corais?

Nosso olhar para a energia limpa, a reciclagem e a substituição do plástico por outros elementos mais naturais, biodegradáveis, deve nos levar a práticas, a ações concretas de preservação do meio ambiente e da vida em todas as suas manifestações. E a questão não está restrita ao plástico, que aqui damos como exemplo.

Se o movimento das empresas em torno da ESG é importante, ainda mais seria o movimento das famílias e das escolas, assim como dos serviços públicos, para essa questão. Destacamos a família e a escola por serem dois institutos sociais de relevância, responsáveis pela formação das novas gerações através da educação, que não podem deixar em segundo plano o despertar das consciências para o que hoje se denomina educação ambiental. O hoje e o amanhã, o agora e o depois da humanidade, está nas mãos das crianças e dos jovens, que, por sua vez, estão nas nossas mãos, os educadores.

É triste verificar que insistimos numa educação que na verdade é apenas instrução, apenas formação cognitiva para objetivos técnico-profissionais. Os discutidores de plantão, pseudo-pedagogos, se levantarão diante desta nossa afirmação, para contrapor diversos argumentos, mas contra os fatos…

Deixemos de lado discussões ideológicas que levam a coisa nenhuma, mas fazem passar o precioso tempo de vida que temos sem que ações reais realizem qualquer transformação, e voltemo-nos para o meio ambiente, a sustentabilidade e a governança (aquela que visa o bem para todos). Já é tempo de fazermos alguma coisa para reverter a destruição do planeta. Se perdermos a casa que nos dá o abrigo e o sustento, o que haveremos de fazer? Habitar outro planeta? Mas, o que faremos então com ele, com a nova morada?

Voltando ao plástico, constatamos que ele está em todo lugar, mas isso precisa mudar...


segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Os escândalos e a educação moral


 

Copa do mundo do desenvolvimento humano

Aproveitando a realização este ano de mais uma Copa do Mundo de Futebol Masculino, reunindo seleções de vários países representando todos os continentes, e que teve brilhante vitória da Argentina (merecidamente) – infelizmente o Brasil foi mais uma vez desclassificado nas quartas de final –, imaginemos que, na verdade, tenha sido realizada a Copa do Mundo do Desenvolvimento Humano, ou seja, que os países participantes da copa de futebol fossem classificados de acordo com os índices apresentados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Atualmente o Brasil ocupa a posição 87 num total de 191 países e, em comparação com a classificação dos países presentes na copa do mundo de futebol, estaríamos desclassificados já nas oitavas de final.

Façamos algumas comparações. A expectativa de vida em nosso país é de 72,8 anos, ou seja, em média conseguimos viver até perto dos 73 anos. A Suíça, que foi nossa adversária na fase de grupos, possui expectativa média de vida de 83 anos. Os suíços vivem 10 anos a mais do que nós brasileiros, isso porque se alimentam melhor, cuidam melhor da saúde e possuem índice de violência muito menor que aqui no Brasil, entre outros fatores de relevância para uma vida melhor.

Vejamos agora outro índice. Aqui no Brasil estudamos em média 8 anos, ou seja, dedicamos esse tempo para a vida escolar e formação técnico-profissional. Os demais países que disputaram a copa do mundo de futebol apresentam média de 12 anos de escolaridade dos seus cidadãos, com destaque para os países europeus e asiáticos. Perdemos feio, não é mesmo?

A conclusão é fácil: se levássemos em conta apenas o índice de desenvolvimento humano, não teríamos chance de levantar a taça de campeão.

Ainda bem que isto é apenas uma simulação e que no futebol as coisas são diferentes, afinal já levantamos cinco taças, somos pentacampeões! E mantemos, a cada quatro anos, a esperança renovada de um novo grito de campeão!

Voltando ao índice de desenvolvimento humano, notemos que nossa posição no ranking da Organização das Nações Unidas é bem ruim. Estamos no meio da tabela. 86 países estão à nossa frente. Temos muito que evoluir, que melhorar. Ainda estamos às voltas com a injustiça social, a miséria, a violência, a corrupção, o mal atendimento na saúde, o sucateamento da educação, entre outras coisas que conhecemos muito bem, pois fazem parte do nosso cotidiano e estão em destaque nos meios de comunicação.

Dizem que o futebol é a diversão do povo, é, pelo menos, nossa distração diante de tantos problemas. Não temos dúvida que o futebol é o esporte paixão nacional do brasileiro, mas essa paixão não pode ser remédio paliativo, verdadeiro analgésico, anestesiando a população para os verdadeiros problemas a serem enfrentados.

Não podemos ficar assistindo sair governo, entrar governo, renovar-se o congresso, tudo isso com o nosso voto, com a nossa escolha, e nada mudar, continuando a velha política do toma lá, dá cá. E a saúde, a educação, o transporte, a habitação, o saneamento básico, a segurança pública, a justiça para todos, a preservação do meio ambiente, o respeito aos direitos humanos, como ficam?

Precisamos melhorar o nosso Brasil, tarefa urgente de médio e longo prazo, mas que não pode mais receber adiamento.

Para isso temos que rever a educação e priorizá-la. Enquanto não fizermos isso vamos continuar a assistir derrota sobre derrota na copa do mundo do desenvolvimento humano, e o grito de campeão ficará muito distante da nossa esperança renovada de quatro em quatro anos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

E se diminuir a idade?

Continuam as mídias de comunicação a publicar reportagens e notícias sobre violência dentro das escolas, assim como violência praticada por menores de idade na sociedade e, diante disso, temos os que são adeptos da diminuição da idade penal para 16 anos (algumas pessoas pensam em 14 anos). Será que isso é solução? Será que levar para a prisão os adolescentes resolve o problema da violência e da criminalidade?

Lendo o educador italiano Franco Cambi, encontramos um pensamento merecedor de sérias reflexões, e que tem tudo a ver com essa questão:

A família, em qualquer sociedade, é o primeiro lugar de socialização do indivíduo, onde ele aprende a reconhecer a si e aos outros, a comunicar e a falar, onde depois aprende comportamentos, regras, sistemas de valores, concepções do mundo. A família é o primeiro regulador da identidade física, psicológica e cultural do indivíduo e age sobre ele por meio de uma fortíssima ação ideológica.”

Perguntamos: o que a família está fazendo com a educação dos seus filhos? Que formação física, psicológica e cultural está dando para a novas geração que diariamente é lançada na sociedade?

O papel essencial da família na educação das crianças e dos jovens precisa ser reavaliado, assim como sua interação com a escola que, por sua vez, precisa repensar sua dinâmica, sua finalidade e sua integração com a vida, mas o nosso foco neste texto é a família e não a escola.

A família é a primeira escola do indivíduo. É no seio familiar onde a criança aprende não apenas a andar, falar, brincar, mas aprende valores, comportamentos, ideais, absorvidos dos ensinos e dos exemplos dos pais ou responsáveis. Mesmo indo para a escola formal, a criança retorna para a família, onde dá continuidade aos seus aprendizados e ao seu crescimento físico e psicológico. A família é sua escola para o resto da vida.

Que indivíduos a família está formando?

Indivíduos cooperativos, solidários, éticos, responsáveis, cumpridores dos seus deveres, com pensamento no bem coletivo, ou indivíduos egoístas, indiferentes, violentos, voltados apenas para si mesmos?

Podemos reduzir a idade penal para a idade que quisermos e o problema da violência e da criminalidade continuará, pois não é a cadeia, a penitenciária, que irá corrigir a deseducação propiciada atualmente pela família, com suas honrosas e necessárias exceções.

O problema é de educação, não é de segurança pública ou de justiça. Estas atuam combatendo os efeitos, mas não alcançam as causas. Somente a educação alcança a raiz do problema e tem o poder de corrigir os desvios hoje existentes na formação das crianças e dos jovens.

Quando aprendermos a dar o devido valor à família na sua missão de educar, entendendo-se essa educação como formação física, psicológica e cultural de que nos fala Cambi e, indo ainda mais longe, como formação moral, do caráter, começaremos a corrigir esses desvios da juventude e, então, não necessitaremos de leis mais rígidas nem de construção de mais prisões.

Felizmente já temos muitos que assim entendem e estão trabalhando pela melhor educação das crianças e dos jovens, apoiando a família que, apesar de todos os problemas que enfrenta, continua a ser a melhor escola, a escola essencial na formação dos indivíduos.


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Uma nova ordem mundial

Depois de um conflito considerado mundial, como foi a Segunda Guerra, países de todo o mundo concluíram da necessidade de se unirem em torno de objetivos comuns, como a cooperação internacional e a paz mundial, e criaram no ano de 1945, especificamente no mês de outubro, a Organização das Nações Unidas (ONU), que substituiu em novas bases a Liga das Nações, que havia fracassado no objetivo de evitar conflitos armados entre as nações.

Passados mais de 75 anos, muitas vozes clamam por mudanças na ONU, estabelecida que foi a partir de um cenário não mais existente. As circunstâncias agora são outras e o equilíbrio de forças econômicas e militares estão bem diferentes daquela época, quando Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética (que nem existe mais) eram as grandes potências. Hoje temos a França, a Alemanha, a China, a Índia, o Brasil, a Rússia (que substituiu a União Soviética em escala menor), o Japão e outras nações com grande destaque mundial, portanto merecedoras de um protagonismo maior na própria Organização.

Há um clamor em crescimento para transformação dos mecanismos que regem o Conselho de Segurança da ONU, principalmente quanto ao poder de veto hoje concedido à China, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e França, considerado arbitrário e antidemocrático. Não se quer um maior número de nações com esse direito, o que se deseja é abolir o direito de veto, para que prevaleça sempre a tomada de decisão da maioria, como deve ser em qualquer assembleia que se diga democrática.

O que acontece até os dias de hoje é que decisões do Conselho de Segurança, formado por 15 países, são derrubadas por um único país detentor do direito de veto, que por razões estritamente políticas a seu favor, derruba um consenso entre todos os demais países, daí a consideração de termos uma organização que está longe de ser uma verdadeira democracia.

Reconhecemos que muito devemos à ONU nos mais diversos aspectos da vida humana, pois ela realmente tem contribuído para que vivamos melhor, e tem evitado uma nova guerra mundial, apesar dos inúmeros conflitos nacionais e regionais ainda existentes. Para novos tempos, uma nova organização mundial das nações, ou talvez melhor dizendo, uma nova dinâmica para a Organização das Nações Unidas, que necessita ser mais ágil diante das demandas de um mundo globalizado, não podendo ficar à mercê de um único protagonista detentor de um direito de veto que não mais se justifica.

As nações mais ricas precisam olhar com espírito de colaboração para as nações mais pobres, num concerto mundial pela justiça social. A pandemia da Covid 19 mostrou claramente o desequilíbrio e a falta de colaboração. As nações mais ricas imediatamente fecharam acordos com os laboratórios de pesquisa e os fabricantes de medicamentos e vacinas, pensando na proteção de suas populações, deixando à míngua os países mais pobres, cujos governos tiveram muita dificuldade em conseguir elaborar campanhas de vacinação e imunização de seus cidadãos. Faltou colaboração e milhões de pessoas morreram, além de milhões terem ficado com sequelas da ação do vírus.

A ONU tem se mostrado impotente diante de conflitos armados, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, entre outras guerras que assolam nosso planeta neste exato momento, ficando à mercê da decisão política de poucas nações que ainda se consideram mandatárias, como se estivessem acima do bem e do mal coletivos. Isso precisa mudar!

Estamos diante de uma nova ordem mundial, de um novo jogo de forças e da procura por uma democracia autêntica na maior instituição humana existente. É tempo, pois, de repensarmos o papel e a estrutura da Organização das Nações Unidas, para que ela possa cada vez mais humanizar a convivência entre nós, os seres humanos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Professor dos novos tempos

Convidado para promover com professores de uma escola, capacitação para aplicação do projeto pedagógico Escola do Sentimento, iniciei realizando uma roda de conversa onde primeiro disse que numa escola inovadora trabalhamos espaços de aprendizagem coletiva, dispondo os alunos em grupos de pesquisa e desenvolvimento do conhecimento, priorizando o trabalho por projetos, e onde o professor não dá aula, e sim orienta o aluno, fazendo-se um tutor do processo. Foi nesse ponto que muitos olhos arregalaram, e um professor fez uso da palavra, num misto de espanto e incredulidade: "Como assim? Eu não vou dar aula? Mas eu só sei trabalhar se tiver um quadro disponível e uma caneta na mão!". Imediatamente lembrei do antigo quadro negro, ou verde, e o giz que tanto caracterizou a escola, a ponto de tornar-se referência do ensino, mas que agora procuramos transformar. E não tardou para que surgisse outra objeção: "Isso não vai dar certo, é dar muita autonomia para os alunos, eles vão fazer o que bem entendem!". Como já me acostumei com essas reações negativas não fiquei impressionado, pois ali estava para apresentar um proposta pedagógica muito bem estruturada, pois em educação não se pode ser aventureiro.

Essas reações contrárias denotam dois aspectos principais dos professores, de uma forma geral: primeiro, uma espécie de horror, de aversão ao novo, numa luta para manter o status, a zona de conforto já estabelecida; segundo, ignorância pedagógica sobre procedimentos e metodologias que vão muito além do ensinar. Mesmo diante dessas contrariedades, perguntei: e por que não podemos fazer diferente?

Professor que não se sensibiliza diante de uma folha ao vento; que não se alegra com o sorriso de uma criança; que não se faz poeta inspirado para fazer da educação uma poesia além das palavras, não é um verdadeiro professor, não é um professor dos novos tempos.

E outra nossa informação é recebida de forma cética: a necessidade de amar a educação, amar os alunos, acreditando no amor como instrumento pedagógico de transformação. E disse uma professora: "Não precisamos de amor na escola, precisamos de segurança pública". E outra professora complementou: "Como eu vou amar esses adolescentes que só sabem agir com violência?". E ainda tivemos mais esta manifestação: "Eu até amo o que faço, mas com salário baixo e más condições de trabalho, fica difícil". Sim, reconheço que dificuldades existem, como a violência, o salário insuficiente, condições escolares precárias e outras, mas nada disso impede que o nosso amor seja mais forte e promova as mudanças necessárias. Insisto: temos que amar, e amar, e amar cada vez mais a educação.

Se a educação ainda não promoveu uma sociedade cooperativa, solidária, é porque não foi entendida como valoroso instrumento formador das consciências, dos valores humanos, transformada que foi em um mero processo de ensinagem e aprendizagem de conteúdos curriculares pré estabelecidos e não questionáveis. A educação verdadeira é a educação moral, é aquela que disponibiliza ao aluno o crescimento integral de seu potencial humano. Para isso um novo olhar sobre a educação e a escola; um novo olhar sobre o aluno e a aprendizagem; um novo olhar sobre o ser humano e a sociedade, precisam acontecer, e vão acontecer com uma nova visão, uma nova filosofia, uma nova metodologia, uma nova escola, um novo professor.

O amor como base, a espiritualização do homem como meta, é o que apresentamos. Trabalhamos uma escola que leve cada aluno a aprender e colocar em prática o fazer ao outro somente o que gostaria que o outro lhe fizesse, a regra de ouro da educação.

Então, professor, por que não se abrir para o convite de fazer uma escola inovadora, de acreditar em si mesmo e nos alunos, para então transformar para melhor o mundo em que você mesmo vive?


segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Por que a educação tem poucas curtidas?

Já havia detectado o fenômeno nas minhas redes sociais, mas ampliei a pesquisa acessando outros perfis, comparando com temas que não tivessem relação direta com a educação. A verdade, muito dolorida, é que as postagens sobre educação têm infinita menor proporção de curtidas e comentários do que postagens sobre qualquer outro assunto, e não importa se é vídeo, imagem ou texto, e essas coisas associadas: quando se trata de educação, as pessoas não dão maior importância.

Isso acontece porque grande maioria considera a educação uma questão restrita à escola, de competência dos professores, ou seja, é um universo distante que não teria relação direta com a vida social. Mais importante é a segurança pública, a política, o reality show, a fake news e assim por diante. Agora, educação…

Esse equívoco de graves consequências tem levado a sociedade a profundos desequilíbrios. Primeiro, porque a educação é a base dos relacionamento sociais bons ou ruins; segundo, porque a educação é a formadora das consciências e, portanto, da ação humana na coletividade; terceiro, porque educação não é problema somente da escola, mas também da família e de todas as instituições humanas. A educação é a base da humanidade que temos e que desejamos ter.

Quem me acompanha nas redes sociais deve talvez considerar que estou sendo repetitivo com esta conversa sobre a importância da educação, mas é preciso falar desse assunto sempre, pois enquanto não compreendermos a importância e o papel da educação na sociedade não conseguiremos corrigir, ou pelo menos minimizar, os sérios desequilíbrios de que padecemos e todos conhecem.

Dizem que o mundo está muito violento, que temos problemas com as drogas, com a poluição do meio ambiente, com a miséria, com a injustiça social, com as guerras e uma infinidade de outras situações que se repetem há muito tempo e não conseguimos solucionar, e tudo isso é verdade, mas qual é o motivo, qual é a causa de não conseguirmos nos livrar desse cortejo de malefícios? Dizemos que a questão está em não darmos importância à educação, ou antes, de confundirmos a educação com a instrução, com a formação intelectual e profissional, pois isso não é educação, embora faça parte.

Vem de longe essa confusão entre instrução e educação, conhecimento e formação moral, e as consequências estão retratadas na sociedade humana atual.. A solução não está na construção de mais escolas, na contratação de mais professores, na disponibilização de mais verbas, na distribuição de mais livros didáticos, no aparelhamento tecnológico de mais escolas. Se tudo isso, até certa medida, é importante, nada disso será solução enquanto não mudarmos o entendimento quer temos sobre a educação.

As redes sociais e os mensageiros instantâneos fazem parte da nossa vida, são ferramentas muito úteis quanto utilizadas para promover o bem e não para espalhar mentiras, e deveriam ser utilizadas para engrandecer a educação, para divulgá-la e mostrar sua importância na formação do ser humano e, por consequência, da humanidade.

Lembremos Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Reflexões sobre a escola

Temos visto e ouvido muitas reclamações de violência física e moral na escola. São cenas tristes como: professores agredindo alunos, alunos agredindo professores, briga entre alunos dentro e fora da escola, alunos que roubam a escola e outros colegas e assim vai! Pais, professores e diretores de escolas não sabem o que fazer para resolver o problema. É uma aflição só! Mas, tem solução? Se houvesse uma receita de bolo para se cuidar da violência escolar seria bem fácil resolver. No entanto, a situação requer mais atenção e carinho por parte das pessoas envolvidas no caso.

Durante anos a fio a escola ignorou o seu papel social e limitou-se a ensinar de uma maneira que para uma determinada época foi válida. Para as escolas públicas bastava se preocupar em cumprir o currículo com os alunos; as particulares ocupavam-se do mesmo e acrescentavam também a questão comercial. Outra época! A comunicação era feita boca a boca, por rádio, televisão, jornal, revista e bilhetinho. Hoje há crise econômica, furto de dinheiro público e impunidade como no passado, porém sabe-se de tudo em tempo real! Assim, fala-se através de aplicativos de celulares instantaneamente agendando encontros e articulando ações de cunho social! Na internet se utilizam as redes sociais para todo tipo de ação seja pessoal ou comercial. Os alunos participam de greves e manifestações públicas! Agendam protestos contra os governos e fazem denúncias “on line” com vídeos produzidos por celulares. Não há mais privacidade!

As pessoas modificaram o modo de pensar e agir. Existe uma apelação muito grande da mídia comercial para incentivar o consumo desenfreado. A meta é global! São milhões e bilhões de reais, dólares e euros envolvidos na questão. Mas, tem uma coisa que não mudou e continua o mesmo: o amor. Sim! Amar! Essa é a forma de se resolver todos os problemas que nos rodeiam. Os pais amarem mais seus filhos; os educadores amarem mais seus educandos e a escola amar mais a comunidade. Motivados pelo amor ao próximo as escolas devem abrir as suas portas às comunidades, oferecer o diálogo como ferramenta de trabalho e incentivar a participação da sociedade nas mesmas. Deve buscar o contato com os pais e acolhê-los em seu seio escolar, a fim de que eles sejam multiplicadores do bem junto aos seus filhos no próprio horário de estudo.

Existem escolas que passaram a se envolver com a sociedade a ponto de oferecerem o espaço físico nos finais de semana para usufruto da comunidade local, obviamente com regras e responsabilidades. É um jogo de futebol na quadra de esportes; um encontro de chá social de senhoras; jogos diversos para as crianças; espaço para se estudar e outras atividades. Outras escolas chamaram os pais para se envolverem com o apoio escolar e atividades de recreação, possibilitando acompanharem de perto o desenvolvimento dos seus filhos. Professores e pais mais próximos, entre si permitem se conhecer as dificuldades do relacionamento familiar. Assim, o envolvimento se torna uma parceria moral resultando no óbvio: a eliminação total da violência contra a escola, professores e alunos, e a violência entre eles, que são os atores da vida escolar e também da vida social.

O amor parece morto, mas não está! Basta praticá-lo e tomar consciência da sua existência. Quando as escolas e seus dirigentes conseguirem entender o mecanismo do diálogo e da atividade colaborativa e participativa do “ternário” escola–educador- educando na nossa sociedade e somar o amor, aí se escreverá uma receita do bolo contra a violência e os estabelecimento da paz. É “uma” receita de bolo e não “a” receita de bolo, pois cada escola é um mundo particular, feita por pessoas diferentes em contextos diferenciados, mas não temos dúvida que o amor é o ingrediente principal e essencial dessa receita.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O dia em que fazer funcionou

Teresa é daquelas professoras que não se acomodam ao sistema e não acatam subservientes o que a coordenação pedagógica estipula ou a direção escolar decreta. Está sempre procurando por soluções pedagógicas para os desafios diários da educação escolar. E porque é criativa, inovadora e dinâmica, vive às voltas com problemas com a burocracia do sistema educacional.

Quando a secretaria de educação não sabe mais o que fazer apela para a transferência, e lá vai a Teresa para outra escola, sempre para uma escola pior, com mais problemas, como a violência, empurrada para a periferia da cidade, como se a nossa professora pudesse ser apagada, esquecida, cancelada. Mas ela não se entrega.

E aconteceu que se deparou com altos índices de violência e desrespeito aos outros na escola de periferia para onde tinha sido transferida. Procurando soluções, encontrou na mediação de conflitos o melhor caminho. Propôs junto à direção a implantação da mediação de conflitos envolvendo professores e alunos, e conseguiu o aval para ir em frente com o projeto.

Teresa encontrou forte resistência por parte de alguns colegas de trabalho. Primeiro, porque muitos simplesmente não acreditavam que com aqueles alunos pudesse a mediação de conflitos funcionar. Segundo, porque outros não estavam dispostos a perder tempo em algo que lhes daria mais trabalho e com rendimento duvidoso. Terceiro, porque a coordenadora pedagógica não havia demonstrado muito entusiasmo com a ideia. Prevalecia o conceito de que com aqueles alunos não valia a pena esse esforço. Havia um descrédito geral quanto àquelas crianças e adolescentes.

Nossa professora destemida não desistiu e deu início ao trabalho. Reuniu os alunos classificados pelos professores como os piores, os mais violentos, e começou a mediação de conflitos com eles. Alguns zoaram a professora, outros desconfiaram da proposta, mas as resistências foram caindo e vários alunos, na verdade considerados apenas problemas, se engajaram, e os bons resultados, com mais alguns professores chegando junto, começaram a aparecer.

Com o índice de violência diminuindo, o projeto chamou a atenção dos pais, que também começaram a aderir pouco a pouco à proposta pedagógica de diálogo para resolver diferenças e encontrar soluções para uma melhor convivência entre todos. Com isso a coordenadora pedagógica se aproximou e, pouco a pouco, junto com a diretora, foi tomando conta do projeto de mediação de conflitos e cultura da paz, tirando a professora Teresa do centro das atenções, até se colocar como idealizadora e responsável do mesmo junto às outras instâncias da secretaria de educação.

Mais uma vez a professora Teresa foi escanteada, apagada.

Ouvimos a história por outra professora que a tudo presenciou, e perguntamos: E a professora Teresa, como ficou, onde está?

Sua amiga nos disse que ela continua na escola, mas sem muito brilho, sendo o tempo todo cobrada para obedecer as burocracias administrativas e pedagógicas, tendo sido apagada do projeto de mediação de conflitos e cultura da paz, que já está um tanto quanto descaracterizado e perdido, pois não teve sequência como se esperava tivesse.

Respirei fundo e solicitei que a colega educadora levasse meu abraço à professora Teresa e a parabenizasse não apenas pelo projeto, mas pela perseverança em afrontar o sistema, e que nunca perdesse a esperança, pois é dessas professoras que precisamos para fazer da educação uma prioridade na formação das crianças e jovens.

A professora Teresa é exemplo do que que podemos fazer para transformar e melhorar a escola, sempre acreditando nos alunos e na força da educação para resolver os problemas sociais que hoje enfrentamos.

Seria muito bom que outras professoras e outros professores seguissem o exemplo da Teresa.


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Sol de verão em dia inverno

Problemas a resolver e dificuldades na vida todos nós temos, isso não é privilégio de ninguém. Agora, você pode deixar que os problemas e dificuldades paralisem sua vida, ou façam você desistir de um projeto, de um trabalho; ou pode, com suas forças, aprender com esses mesmos problemas e dificuldades, superando-os com o tempo, minimizando-os, sem perder a esperança de dias melhores e um futuro de acordo com os esforços que você está empreendendo para ter uma vida melhor.

Com os professores não é diferente.

Professor é um ser humano que lida com outros seres humanos, no caso, seus colegas de trabalho, seus alunos e os pais de seus alunos.

Onde se reúnem seres humanos muitas vezes temos atritos, falhas de comunicação, ideias diferentes e, portanto, problemas e dificuldades a superar.

A escola não é isenta de ter conflitos, mas os conflitos existem para serem entendidos, conversados e resolvidos.

Rubem Alves dis que “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo inverno do lado de fora, a despeito dele brilha o Sol de verão no lado de dentro.”

O professor jamais pode perder a esperança de dias melhores na educação e no trabalho escolar que realiza, desenvolvendo o processo de ensino e aprendizagem.

Os desafios são inúmeros: crianças desobedientes, adolescentes sem limites, jovens agressivos, pais incompreensívos, colegas acomodados; mas não somente isso, pois também temos o outro lado da moeda: crianças participativas, adolescentes ávidos de aprender, jovens entusiasmados. Pais colaborativos, colegas empenhados em dar o seu melhor.

Tudo depende da visão que temos sobre a educação e a escola.

Como diz o Rubem Alves: pode estar o inverno mais rigoroso do lado de fora, mas o que importa mesmo é o professor fazer o Sol de verão brilhar dentro da escola através do seu trabalho.

Não importa que sua escola esteja próxima ou mesmo dentro de uma comunidade onde as carências se multiplicam e a violência prevalece. Mesmo assim temos que reconhecer que somente a educação é o caminho para solucionar os problemas que ora afligem essa comunidade.

Professor, professora, não desista!

Se você desistir, se você desanimar, quem irá formar os bons cidadãos do presente e do futuro?

Se você não acreditar na educação e na escola, quem fará amanhã a humanidade melhor?

O amor é o maior fundamento da educação, como nos diz Pestalozzi, então coloque muito amor no seu trabalho, pois o amor tem a força de vencer todos os problemas e dificuldades que a vida pode apresentar.

A escola são pessoas, são seres humanos num trabalho conjunto pela educação das novas gerações. Não as deixe desamparadas. Crianças e jovens depositam em você a esperança de brilharem como um Sol de verão num dias de inverno, e isso somente pode acontecer se você professor, se você professora, acreditar na educação e fazer da escola um organismo vivo pulsante de amor.

Pense nisso, e continue seu trabalho, com toda esperança.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Escutatória pela vida

O Michel estava com 13 anos e era visto pelos professores como um aluno introvertido, de poucos amigos, pouco participativo nas atividades em grupo, mas com média inteligência e notas dentro da média esperada, nada excepcional nem frustrante. Muitas vezes passava despercebido pois não dava problemas, nada aprontava que merecesse maior atenção. Era mais um aluno no mar de alunos da escola.

Contudo, naquele dia pesava o ar na escola, estava difícil respirar. E todos perguntavam: Como podia ser? Como ninguém havia percebido a tragédia que estava por acontecer? É que o Michel havia cometido suicídio, tinha se tirado a vida. Todos estavam arrasados e não sabiam muito bem o que fazer.

Esqueceram que antes de ser aluno num mar de alunos, o Michem era um ser humano, uma pessoa com sentimentos, com uma história de vida. Nem seus sentimentos nem sua vida foram levados em conta pelos que fazem a escola, e assim não se deram conta dos sinais que vinha dando: isolamento, não participação, poucas palavras, mergulhado em si mesmo quase todo o tempo, poucas amizades. Sinais da depressão que foi se aprofundando, culminando com o autoextermínio.

Essa história é mais comum do que possamos imaginar. Depressão e suicídio na infância, adolescência e juventude já é considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) uma epidemia, um grave problema de saúde. Se antigamente o suicídio era ligado aos adultos, hoje é diferente, nossas crianças e jovens fazem parte dessa estatística.

Precisamos urgentemente da escutatória, do saber ouvir o que os jovens têm a nos dizer, para que possamos dar a eles o que necessitam na área emocional, na área do sentimento.

Pais e professores não estão preparados para lidar com essa questão. Não recebem em sua formação essa qualificação e ficam perdidos quando os sintomas aparecem em seus filhos e alunos. Meu filho com depressão? Meu aluno cometendo suicídio? Perguntam atônitos, sem entenderem o que aconteceu e como não se deram conta disso. E o que fazer para evitar que outras crianças e jovens se deixem levar pela depressão, correndo o risco do autoextermínio?

Passou por essa experiência o professor Léo Buscaglia. Depois de passar por uma espiral depressiva e se erguer com muita meditação e estudo de filosofias espiritualistas, por conta do suicídio para ele surpreendente de uma aluna, Léo entendeu que o caminho era trabalhar o desenvolvimento do sentimento do amor e, automaticamente da empatia e da resiliência com seus alunos. Seu trabalho rendeu tão bons frutos que se tornou palestrante e escritor para levar esse importante trabalho para o público.

Léo Buscaglia implantou na universidade o curso de extensão Amor e, durante anos, listas de espera por vaga se acumularam, tal a ansiedade dos jovens em estudar e compreender esse que é o maior dos sentimentos e tão importante para melhor viver.

Somos seres de relação, somos dependentes uns dos outros. Como viver apenas com o mundo digital do celular e dos games ou redes sociais? Somos necessitados do abraço, da palavra, do olho no olho, do diálogo, do sorrir e chorar. Essas coisas não podem ser feitas através da internet por meio de aplicativos. Precisamos estar com o outro, permitindo que o outro esteja conosco.

Família e escola são institutos humanos de convivência e de preparação para a vida de relação na sociedade. Estão, de fato, fazendo seu papel nessa educação?

Até quando vamos deixar passar por nós o Michel? Até quando vamos desdenhar e deixar no esquecimento o trabalho do Léo?

Deixo estas perguntas para você pensar diante do quadro assustador de depressão e suicídio na infância, adolescência e juventude.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Lá nas terras das minas gerais

Foi num evento educacional que conheci os amigos Cida e Tonheca e fiquei sabendo que eles estavam à frente de uma escola na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais. Trocamos ideias e me convidaram para lá estar. E durante quinze anos ficamos indo para lá, vendo a escola crescer da educação infantil para o ensino fundamental, e depois para o CASA – Centro de Apoio Sócio-Afetivo, seu braço filantrópico e comunitário em ampla área arborizada que agora recebe também parte da escola.

Qual é o diferencial do Centro Educacional Conhecer? É que é uma escola inovadora, no conceito e na prática. As turmas compõem ciclos de estudo e pesquisa, as professoras são orientadoras do processo de aprendizagem, os pais participam do processo pedagógico, entre outras coisas que fazem a diferença, não apenas metodológica, mas na filosofia educacional, pois virtudes e valores, humanização e participação estão presentes o tempo todo.

Então nos perguntam se o Conhecer deve ser o modelo de escola a ser adotado no nosso Brasil. Respondemos que é uma escola que vale a pena ser visitada, ser conhecida, mas não deve ser copiada e reproduzida. Como aliás nenhum modelo escolar deve ser copiado e reproduzido. Vou explicar porque.

Cada escola é uma entidade humana única. Pode seguir uma mesma filosofia e metodologia, mas não pode ser cópia de outra escola. Isso porque a escola é formada por pessoas, que são indivíduos de personalidade diversificada, em contextos diferenciados sociais e históricos. Qualquer modelo ou metodologia precisa sofrer as adequações necessárias, sob pena de naufragarem na sua execução e nos seus objetivos.

Lá em Leopoldina determinadas atividades educacionais podem estar dando certo, mas isso não significa que transportá-las para uma escola, por exemplo, de uma cidade do interior do Maranhão, produzam os mesmos bons resultados. Por que? Porque lá as pessoas são outras, a realidade dessas pessoas é diferente, a cultura local é diversa da cultura lá do interior mineiro. O copia e cola em pedagogia não funciona.

Então tenho que dizer que o Conhecer é uma escola inspiradora para outras escolas de como se pode fazer uma educação inovadora, criativa e humanizada.

O mesmo podemos dizer de escolas como a Amorim Lima, o Âncora e outras espalhadas por este nosso Brasil, que desenvolvem projetos pedagógicos diferenciados, centrados no processo de aprendizagem dos alunos, que são vistos como pessoas, indivíduos em desenvolvimento. São escolas que funcional como uma grande família em comunidade de aprendizagem. Todos ensinam, todos aprendem, uns com os outros.

Sonhar que todas as escolas públicas de um município funcionem do mesmo modo, no mesmo modelo, é sonhar um sonho impossível. Repito: podem seguir uma mesma filosofia e metodologia, mas cada escola será única, com sua liberdade administrativa e pedagógica para adaptar e criar, de acordo com seus professores, alunos, funcionários e pais.

Já vi escolas que fracassaram com o sistema copia e cola. A proposta era boa, mas não funcionou porque a realidade local não foi levada em consideração, não foi respeitada. E não pode mesmo dar certo apenas copiar uma escola de um país europeu e querer fazer do mesmo jeito no interior brasileiro, e mesmo de uma determinada região brasileira para outra região.

Bons projetos pedagógicos não faltam no nosso país. Acredito que não precisamos importar projetos escolares de outros países, mas precisamos compreender que insistir em copiar determinado modelo, fazendo tudo igual, é burrice. Somos criativos, inventivos, por natureza, e isso não pode ser colocado na gaveta.

O Conhecer, lá em Leopoldina, é uma escola que pode incentivar e inspirar outras escolas inovadoras, Vale a pena visitar e tomar um delicioso café mineiro com a Cida, o Tonheca e companhia, e de lá sair sonhando um bom sonho educacional para o Brasil tão esperado de um hoje e de um amanhã repleto de boas esperanças através de uma educação humana na formação de cidadãos conscientes e éticos.

Vamos para as terras das minas gerais e de lá sair para as terras do nosso Brasil?

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Navegar é preciso

Conversando sobre educação em programa televisivo através da internet, recebi a participação da Elizabete Alves, trazendo um pensamento fantástico onde embutiu uma importante pergunta:

Navegar é preciso. Educar é mais preciso ainda. Onde escola e pais estão sem navegar?”

Não temos dúvida que é preciso navegar, ou seja, viver a vida, se movimentar, realizar, não ficando no comodismo da zona de conforto. Um barco é feito para navegar, não para ficar guardado em terra firme, ou ancorado no porto sem jamais zarpar. Assim deve ser nosso viver, pois somos os que fazemos a vida.

Também não temos dúvida que é preciso educar. Temos escrito sobre isso incessantemente. A educação das novas gerações é essencial. Toda transformação social passa pela educação das pessoas. Quando falhamos na educação temos uma sociedade que irá refletir em escala maior essa falha.

Agora, onde escola e pais estão deixando de navegar?

Tenho escrito e falado que tanto a escola quanto a família tem falhado na educação moral das crianças e jovens. Se você que está lendo este texto quiser chamar esse enunciado de educação ética, de educação em virtudes, de educação em valores humanos, ou qualquer outro nome, isso não é o mais importante, pois o que vale mesmo é nos entendermos quanto ao conceito, o que essa educação representa.

Há tempos a educação é confundida com a transmissão de conhecimentos compartimentados em disciplinas curriculares, então professores e pais estão preocupados com o aprendizado da matemática, da língua portuguesa e outras disciplinas. Estão preocupados com as provas, as notas e os deveres de casa. Esses conhecimentos são importantes, tanto quanto ler e escrever, mas será que a educação do ser humano se resume a isso? Será que o certificado de conclusão representa a educação?

Quantas pessoas dotadas de amplos conhecimentos fazem mal à sociedade? E fazem mal porque são egoístas, orgulhosas, preconceituosas. Pensam primeiro nelas mesmas e nos seus interesses, e somente depois, se tanto, pensam nos outros e nos interesses da coletividade.

Quantas pessoas repletas de conhecimentos utilizam a violência? Agridem, atropelam, mentem, matam diante de qualquer conflito de relacionamento, manipulando os conhecimentos para arquitetar males maiores em prejuízo dos outros.

Tudo isso acontece porque falta a elas o sentimento, não são capazes de sentir o outro e de se colocar no lugar do outro.

Então, temos que escola e família, professores e pais, estão esquecidos de navegar pela educação moral, equilibrando o desenvolvimento do conhecimento com o desenvolvimento do sentimento.

Está mais do que na hora de colocarmos o barco da educação de volta às águas da vida, com pessoas trabalhando com pessoas, numa dinâmica viva muito além de conhecer por conhecer.

Onde seres humanos se encontram precisamos de humanização. Família e escola são espaços de pessoas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Virtudes e valores

Já dizia o velho Aristides, professor que encontrei nos caminhos da vida, ele que tinha muito tempo de magistério trabalhando no ensino médio e no ensino superior, que “o melhor mestre é sempre o exemplo”. Não penso de outra forma. Quantos discursos professorais já vivi e que nada significaram, pois o discursador não era exemplo do que falava. E isso não acontece apenas na escola, mas igualmente na família.

No desenvolvimento das virtudes e dos valores, hoje tão desprezado ou falseado, um forte equívoco dos educadores é insistir em comparar a capacidade de aprendizagem de uma criança com o de outra. É equívoco porque cada criança tem sua personalidade, seu ritmo de aprendizagem, sua história de vida. São individualidades diferentes, não são máquinas com a mesma programação, são pessoas, são seres humanos carregando inteligência e sentimento, e a comparação com o outro pode, em verdade, desestimular seu progresso, sua força de vontade.

O educador, seja ele pai, mãe, professor, professora e quem mais esteja responsável por uma criança, deve saber aprender a “ler” a maneira e o jeito de ser das crianças com as quais trabalha. A Rose, professora da educação infantil sabe disso:

Cada criança é um mundo próprio. É um encanto observar como cada uma assimila os aprendizados, como cada uma pensa, raciocina. E não podemos desconsiderar sua realidade emocional, seu histórico social e familiar. Educar é um universo de emoções a cada dia quando se lida com as crianças.”

Outra questão relevante é saber que nem sempre a criança consegue verbalizar tudo o que aprende. Às vezes ela não quer falar, não quer contar, apenas interiorizar o aprendizado, que mais tarde aparecerá espontaneamente. Se a criança não quer falar, não quer contar o que aprendeu, respeitemos seu silêncio, do mesmo modo que muitas vezes queremos que respeitem o nosso silêncio quando só queremos pensar.

Na ânsia de bem educar, de querer que nossos filhos e nossos alunos desenvolvam a contento virtudes e valores para uma cidadania ética, vez ou outra exageramos nos estímulos e também nas cobranças comportamentais, e isso pode ser frustrante para a criança e funcionar em contrário, como um desestímulo. Mais importante é dar o bom exemplo, ser o que gostaríamos que elas sejam.

Agora, o mais importante. Para bem educar é preciso que o educador conheça a si mesmo, se eduque, para que a criança, seguindo seus exemplos, seja sua imagem e semelhança, exatamente o que não se quer que ela seja. Isso entendeu muito bem a Mariana, professora do ensino fundamental:

Eu vivia irritada e levava para a escola meus problemas familiares e minhas frustrações com a carreira profissional. Depois de muitos problemas, percebi que o clima ruim nas turmas tinha muito a ver com o jeito como eu me comportava, com minhas falas e atitudes. Comecei a me ver nas falas e comportamentos de vários alunos. Foi quando me dei conta que eles estavam sendo o que eu era, copiavam meus exemplos: irritada, sem paciência, ranzinza, explosiva, exigente. As coisas melhoraram quando comecei a me educar, a me transformar. Pode até não parecer para muitos, mas o professor é um modelo para os alunos.”

Podemos estudar teoricamente virtudes e valores, e termos nisso bons aprendizados, mas nessa área o que mais vale é o exemplo de quem ensina, de quem tem a responsabilidade de educar.

Se queremos que as novas gerações sejam éticas, responsáveis, incorruptíveis, sabendo pensar nos outros e no bem coletivo, entendamos que tudo isso é dependente muito mais dos nossos exemplos do que da aquisição de conhecimentos, é dependente muito mais do sentimento do que do saber filosófico.

Que o digam o Aristides, a Rose e a Mariana, com seus depoimentos assentados na experiência de quem trabalha diariamente com as crianças e com os jovens.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...